Fico feliz quando observo cães alegres a passearem junto dos seus tutores, a desfrutarem de momentos em família, mas quando a trela que os guia está ligada a uma coleira, não deixo de lamentar essa escolha e julgo que esses tutores desconhecerão os potenciais malefícios de uma coleira.
Há uma grande variedade de coleiras à venda no mercado. No fundo, mais para agradar ao tutor do que servir o animal. As coleiras poderão ser úteis ao permitirem a identificação do cão e associar um número de contacto, mas deverão ser das que abrem automaticamente sempre que for exercida pressão, de forma a impedir acidentes que acabem no estrangulamento do animal, se tiver o azar de ficar preso. Coleiras estranguladoras, pela violência que exercem no pescoço, são totalmente desaconselhadas.
Existem grandes diferenças entre coleira e peitoral quanto aos pontos de pressão exercidos. A coleira sobrecarrega a zona do pescoço, comprimindo a veia jugular. Durante um passeio, a força exercida na coleira pode aumentar a pressão intraocular e provocar um glaucoma. O peitoral reparte a tensão entre o pescoço e a caixa torácica, o que provoca uma menor pressão direta no pescoço.
Há que ter presente que cada vez que um cão passeia com trela e coleira e contraria o ritmo de caminhada do seu tutor, ou entusiasma-se tomando a dianteira, puxando, está a sofrer pressão na coluna cervical e para além de dor, poderá desenvolver lesões. Os cães, tais como os restantes mamíferos – exceto a preguiça -, possuem sete vértebras cervicais que sustentam a cabeça. As vértebras servem de proteção à medula espinal, porção alongada do sistema nervoso central. A coluna cervical é uma área muito afetada por hérnias discais; pressões nesta zona podem predispor a doenças desta natureza ou piorar alguma já existente.
Considera-se haver variação de acordo com a raça; cães grandes com forte musculatura cervical não serão tão sensíveis como os mais pequenos, mais frágeis. No entanto, cães de raça dobermann ou dogue alemão, apesar de grandes, apresentam predisposição para instabilidade cervical.
À pergunta “Passear com coleira ou peitoral?” a resposta é simples: peitoral, sempre! Deve procurar-se um modelo que se ajuste bem ao animal, que seja confortável e se adapte ao tipo de atividade. Para além disso, aconselha-se o treino com reforço positivo de forma a que o cão se habitue a andar à trela tranquilamente.